terça-feira, 29 de junho de 2010

Caminhos


Hoje eu estava pensando, refletindo sobre a vida. Como as coisas podem mudar tão bruscamente ? Como, do nada, o tempo faz questão de dar as suas reviravoltas e nos transformar, nos fazer amadurecer, crescer tanto ? Muitas vezes vorazes pela mudança rápida e eufórica, nos esquecemos dos detalhes. Às vezes,sim, é necessário todo esse processo árduo para que antigimos todo esse crescimento. A palavra gradativo é real, porque nada, nem ninguém conquista sentimentos do outro, assim. Não tem o mínimo nexo.Mas é essa felicidade que me inunda, me motiva a viver e me estimula a continuar alegremente correndo pelos espaços dos sonhos e os concretizando. O mel tão doce do amor, em muitos momentos é amargo, mas com o tempo, as coisas vão se concretizando, se delineando, sem porquê.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Verde


Um belo dia de Sol. Chegava a cegar bem os olhos, a deixa-los bem fechados, esticando-os, assimilando com os japoneses, chineses. Um belo dia pra olhar o céu azul, sem nenhuma nuvem. As crianças chegavam ao jardim, com baldes d'água, jogando em si e em seus próprios amigos. Realmente estava um belo dia. As aves atônitas em seu caminho ainda incerto. Os animais de estimação eufóricos e indecifráveis. Porém, havia uma ambiguidade naquele ambiente tão febril de felicidade. O jardineiro não estava em seu dia de folga, estava febril sim, mas de cansaço por estar já desde de tão cedo trabalhando, esforçando-se ao máximo para deixar a grama baixa para poder logo ir embora. Ver a sua família, as pessoas pela qual tem um apreço enorme. Magnífico não é o sonho, é a realização dele, como um presente oriundo de longe. Como um término do dia no horizonte, a brilhar e apagar como vagalumes perdidos no espaço. Ele não parava. O menino encostado na porta o observava, talvez até mais do que devia. Estava encantado com a sua beleza rústica, talvez até arcaica. Mas era o que sentia. Não podia esconder de si mesmo. Era algo que saía do âmago como uma essência, a pairar por todo o ar. A sua irmã ouvia alto a música, mas ele nem se apercebeu. Será que poderia dar certo ? Somos tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais. As diferenças nos aproximam, pensou. Mas algo guardado dentro do peito não o permitia nem se quer falar algo com o jardineiro. Ficou preparando o seu psicológico pouco a pouco, para não deixar rastros de nervoso e de uma experiência tão nova para ele mesmo. Mas antes disso, o jardineiro já havia percebido os olhares mais maliciosos ou talvez até menos distantes do garoto. Ambos precisavam suprir a carência que tinham. Precisavam que se amassem. E lá, na grama verde, a vida começou. Não para um ou para outro. Mas se encontraram, ambos.

Iscas


Todos os dias o pescador saía de sua casa, bem cedo. Arrumava os cabelos com as mãos, ia para a sala, ligava a televisão e via as notícias. Tomava sua vitamina, depois um chá com biscoitos. Pegava seu material para fazer sua pesca matutina. Diferente de qualquer esporte ou um simples hábito, ele considerava isso como um ritual para começar seu dia. Dias de peixes grandes, outros de peixes pequenos. Dias que não haviam peixes. Não sabia bem ao certo que técnica usar. Apenas sentia o vento, às vezes entrava na água, um pouco mais profunda ao certo naquele dia. Lembrou-se que tinha se esquecido uma das iscas, a que tinha colocado mais expectativa para que executasse e obtivesse um bom desempenho. Esqueceu-se de todos os ensinamentos e resolveu desafiar a lógica e a si próprio. Usou uma isca mais magra, mais fina, talvez até mais incapaz. Porém, mesmo com o demorar e com o trabalho árduo, conseguiu um dos maiores peixes de sua vida e saiu satisfeito para casa. Descobriu que bastava sua determinação para seguir em frente, fosse com objetos de grande ou pequeno porte. Bastava viver assim. Era o suficiente para si. Para ser o maior pescador. Não por ser o melhor dentre todos, mas sim, ser o melhor extrapolando os seus próprios limites.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Vitória


Hoje pensei muito sobre a vida, sobre conceitos como maturidade, felicidade e compromisso. Como saber se está maduro o suficiente pra assumir compromissos que nos são tão novos, que nos exigem tanto compromisso com tudo ? Se entregar é um processo realmente difícil e esquecer o passado, mais ainda. Mas o fato mais circunstancial não é esquecer por completo o passado. Porque através deles somos o que somos hoje. É aceitar que ele fez parte de nós, que ainda faz, mas que hoje não é tão latente e seguir o futuro, focar as metas, decisões e planos. Não se perder, não se julgar, não se cobrar tanto. Afinal, as coisas quando têm para acontecer, acontecem tão naturalmente que nem damos conta e quando percebemos elas a aconteceram e suprimos todos os complexos da nossa mente. O essencial mesmo é viver, numa eterna busca pelo auto-conhecimento. Descobrir que o que temos de pior, não é uma anomalia. Mas algo que nos completa e faz ser quem somos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Enquanto


Do simples não assimilo mais nada. Não da simplicidade das coisas, digo. Acho que quero dizer mais é que tudo está médio demais, digamos medíocre. A sociedade ocidental tem essa mania absurda de considerar que tudo está bem, só por beirar a média. Quando vamos perceber, a coisa se acumula de uma tal forma. Que chega a acumular no peito a dor tão elementar e clara. Talvez mais obscura do que clara. Os processos místicos, os fantasmas da mente são reais, o medo de perder o rastro da existência e da lembrança, que será logo substituída por outra é latente. Estamos sempre paranoicos nesse mundo corrido e agitado que nao nos permite refletir sobre casos pertinentes a nossa vida. Por isso nos perdemos tanto, tomamos tantas atitudes impulsivas. Por não termos observado um terço das minucias que rodeiam tudo o que ainda não conhecemos. E quem disse que conhecemos algo? Ainda há muito para se descobrir. Mesmo que se tenha considerado que tudo já foi descoberto. A cada segundo damos um novo gesto, descobrimos um novo erro, uma nova palavra. Estamos em eterna pintura. Por isso nunca deixamos de lado a palheta interna.

Lados


Aos sons do piano ela inicia seu dia. Olhava pela janela lá fora, o dia extrapolando luzes. Às vezes mais desanimada, com os dedos calejados, com as melodias cansadas de repetir o seu árduo trabalho. Do condicional que se faz tão intenso, devemos sempre nos esforçarmos. A caminhada é eterna, enquanto dura. A competição é necessária. Ela nos dá uma motivação absurda para seguir novos passos, novos rumos. Quase falecia nos ápices das canções. Era tão pulsante e tão entregue ao seu suposto ofício, preferia chamar de hobbie. Ficava mais bonito, até mais erudito. Não entendia o sentido das músicas instrumentais. Apesar de tocarem em órgãos tão sensíveis do âmago, elas, ao mesmo tempo, não diziam nada. Uma solidão a abatia e procurava, mais uma vez, as canções alegres. Se sentia momentaneamente feliz. Mas ainda doía o som das más melodias que já produzira, em erros e mais erros. Mas pensou: o passado já constituiu o bom, tudo que sou hoje é graça as minhas falhas como pianista. Recomeçar novas melodias, reciclar algumas notas de algumas partituras antigas é sempre necessário. Até que um dia, deixou de olhar as luzes de fora e resolveu ser a própria luz diante da sua janela. E o fez.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Completo


Quando criança, lembro-me dos questionamentos que indagava sobre a vida, sobre os momentos que havia passado, pelos momentos que poderiam acontecer ou não. A falta de auto-confiança, de auto-entendimento se perpetuaram por longos anos. Foram difícieis, confesso. Chorava demais, recebia críticas e julgamentos que eu não entendia o porquê. Vários olhos a me olharem com censura, ia perdendo o ritmo e me entregando aquelas críticas, verdadeiras ou não. Odiava tudo, reclamava de tudo, um pessimismo voraz na tentativa de mudar o rumo, mas só caía, distante e firmemente no horizonte. O destino se perdeu por um tempo, mas nada é como o tempo, que nos salvaguarda as melhores coisas para o futuro. Então, vivi mais, me acrescentei mais. Fui formando personalidade, assim como complexos advindo das fases mais complicadas da minha vida. Acho que foi isso que aconteceu, eu me perdi. Mas no encontrar dos laços, dos nós que ficam não tão em foco, me completei, em quase todos os pedaços e formas. Muitas vezes eu me pergunto: será que o destino age realmente ou são apenas coincidências ? Bem, disso eu realmente nem sei. Só sei que devemos olhar para tudo uma nova vez, nos permitimos encontrar de novo a felicidade.

"No fim de uma história, sempre choramos. Mas também sempre estamos prontos para ouvir outras"

domingo, 13 de junho de 2010

O preço da loucura


Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Entregue-se como eu me entreguei.
Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa qualquer entendimento...

Clarice Lispector

Achei que assim que deveria começar a postagem de hoje. As pessoas têm a séria mania de criar obstáculos para si mesmos. Ora deixam de sorrir, de rir, de gargalhar. Apenas por medo de dos olhares mórbidos. Somos livres, apesar de não sabermos, ou de muitas vezes, não exercemos nosso direito de tornar a vida melhor e mais saudável. A loucura convicta é sinônimo de vitalidade. Não aquela das camisas de força. Aliás, a loucura tem múltiplos significados. Basta nós darmos a semântica que quisermos. Somos livres também para isso. O problema é quando passamos a ver tudo de uma maneira superficial, a nos escondermos, termos medo da nossa própria essência, que, às vezes, é mais linda do que se pensa, do que o esteriótipo exigido pela sociedade. Às vezes gosto de ultrapassar as barreiras, escapar dos moldes que nos tornam tão mecânicos, robóticos e atrofiados em nós. O pior ainda é quando escutamos as críticas alheias. Elas querem, além de tudo, nos fazer mal e nos empobrecer o espírito. Devemos nos amar como somos, com nossos defeitos e peculiaridades. Isso é constituir um auto-conhecimento, auto-entendimento. Isso é viver e não apenas existir.

"Deixe que digam, que pensem, que falem"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O amor em uma lagoa


Denso, espesso, frio. Era como estava o dia nublado da pacata fazenda. Os animaizinhos, tão pastoris. O cheio da grama molhada, atiçava os pensamentos inconscientes da jovem mulher, que agora iria mudar-se para a cidade grande, para realizar sua graduação. Ao mesmo tempo em que estava animada ao conhecer uma nova realidade, estava intensamente magoada. Possuía a certeza de que não aproveitara tudo que podia das árvores, da natureza em si. Seria uma frustração? Não se sabe.
Montou em um dos cavalos e saiu por aí, sem destino e rumo, com o vento a congelar seu rosto, sem melancolia, mas liberta de si. Chegou próxima ao lugar mais longe que podia, via um lago, peixes, uma calmaria inquietante. Pensou, rapidamente, em conferir em seus bolsos, para ver se achava algum papel, para se entreter, a fazer barquinhos de papel. Realmente não tinha a certeza de nada nesse momento. Era difícil a mudança, a mudança dos hábitos, comportamentos. Pensou em sair do casulo, já era a hora. Mas ela não queria voar como as borboletas. Queria estar profunda, como os peixes.
Então, como um camaleão, absorveu as escamas e rapidamente, sem pensar, pulou dentro do lago. Nunca mais se soube notícia alguma daquela sensível mulher. Só se sabe que o seu amor assimilou a lagoa. Ambos se assimilaram.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O menino rosa


O menino andava pela cidade, todos os dias sobre a mesma calçada. Sentia um calafrio nos pés quando, por exceção, mudava de lado. Ao passar por diferentes muros, se sentia tão fora de seu lar habitual. Era como se fosse um rito, uma coincidência, que ele próprio criava, para se sentir mais seguro, nas largas ruas, nas estreitas memórias.
Um dia, sentou-se numa escada das casas pelo qual passava, se sentia cansado, a alma pesada. Além de ser uma exceção no seu próprio mundo, não era dono nem do seu próprio caminho, que, por ser público, todos passavam. Veio um aperto no coração, uma vontade de mandar todos para seus devidos lugares, para seus próprios lados de ruas. Talvez até mesmo ladeiras próprias para cada um dos habitantes daquela região. Um paralelepípedo, mesmo o mais pequeno, mas pelo menos, pertecente a cada um.
Dois dias se passaram, seu percurso estava vazio. Algo impressionante para um lugarejo tão movimentado, com pessoas apressadas, sempre. Mas naquele dia isso não acontecera. Só vira um menino soltando pipa, um carro de algodão-doce. Só isso. Viu um algodão-doce rosa, por um momento, em um suspiro voraz, pensou em comê-lo. Pelo contrário, queria absovê-lo. Ainda mais, queria sê-lo. Pois assim, entregou-se a brisa e com o vento e se juntou com o azul do céu. Era uma nuvem, uma nuvem rosa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O cansaço




Uma vez parei pra pensar na relação entre as pessoas. Os sentimentos extrapolam as palavras, talvez as mais bonitas e poéticas que possam existir. Se faz um carinho ali, um apelido bonito e especial acolá. Talvez não seja essa a verdadeira essência. Atitudes são fundamentais para nos sentirmos amados, até ninados e dengados. Todos precisamos disso, seja em pequenas ou em elevadas doses. Já estou cansado desse catalogar tão mecânico do mundo, das pessoas. "O que você é?" ; "O que você faz?" ; "Quem você é?". Essas perguntas não são facilmente respondidas. Por que será que não esperamos o tempo para responde-las ? As pessoas correm apressadas e não esperam o seu momento, o passo das coisas naturalmente. É esse o grande medo da maioria das pessoas, se se entregam de corpo e alma, estarão sujeitas a não esperar os processos, mas sim pisotea-los.

Fases


Todos os dias nos renovamos. A cada gesto, simples passo, nos pegamos em novos sons, tons, imagens antes não apercebidas e até de certa forma escondidas. Estamos sempre em constante mutação. Mesmo que não seja muito visível hoje, amanhã é certo de que nos tornemos aptos a nos conhecermos melhor. Faz parte do auto-entendimento da nossa própria essência, de todos os caracteres que nos compõem. Muito não sabem nos ler, não nos compreendem. Mas é normal, às vezes a leitura é muito difícil e por isso, achamos chato ou sem importância. É a ignorância dá má interpretação, da falta de aguçar os nossos próprios sentidos a novas leituras. Se vemos uma capa feia, julgamos que o livro não é bom. Pois estamos enganados. A beleza é inerente aos olhos. Extrapola a visão consciente. Estamos sempre em constante mutação. E é isso que nos move a seguir em frente, seja avançando ou regredindo.