quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Dois


E de repente, foram postas as vendas...Ainda se sentia meio zonza, meio vazia em sua consciência. De repente, não se sabia se a luzes se apagaram ou se foi ou seus olhos que fecharam subitamente. É tão difícil passar por uma nova fase da vida. Os passos, cada vez mais diferentes um dos outros. Os pés meio tortos. A auto confiança meio ao avesso. E por mais que se tentasse entender o motivo das mudanças repentinas, era um tanto quanto improvável. Às vezes, demasiadamente simples é para uma criança entender algumas coisas do mundo de maneira prática. Mas, quando adquirimos muito conhecimento, muitas vivências, acabamos por complicar as coisas, acharmos que tudo é tão sério quanto a carapaça que revistimos pouco a pouco quando nos tornamos adultos. Ou pseudo, não se sabe. Ela não sentia mais a respiração, mas isso foi só durante dois segundos, que logo depois, sentiu sua respiração ofegante. E nada mais viu. Em um sonho vívido lembrou-se ainda dos momentos de menina, com o vestido rodado, com os laços caindo, desentrelando-se, assim como sua consciência. Divertia-se com a ideia de uma infância feliz. O seu passado agora trazia lembranças melhores do que o próprio futuro lhe reservaria. Ah, como bom são os tempos das pequenas preocupações. Das pequenas responsabilidades, afinal. Do rosto macio, inócuo, passional.
O tempo estava se passando cada vez mais rapidamente na sucessão temporal de seus sonhos, que quando se notou, já era uma mulher, vívida, brilhante, independente. Mas também um pouco frustrada, por sempre correr demais, não poder dar atenção a si mesma. Impossibilitando, muitas vezes, de amar a si própria. Infeliz é aquele que não se ama, incompleto nos dons, nos tons, na essência. Tão mirabolante essa escuta plena, porém algo estava lhe faltando. Agora, já sabia o que era. Quando, de repente, ouvia uma voz, indagando-a se estava tudo bem. O amava, isso já bastava. Toca-lo, senti-lo, cheira-lo...abraça-lo! Ainda possuia tudo o que precisava. Sua visão de mundo, suas perspectivas. Seus planos pro futuro, que agora, reorganizados, tomaram uma outras dimensão.
São fases da vida, disse ele. Estarei sempre ao seu lado. Imagine a flor mais bonita. E antes de tirar a venda, imaginou. E conformando-se ao suprimir sua melancolia, não abrandou-se. Apenas se permitiu sorrir. Ao tirar a venda, ao abrir os olhos...Continuou sem ver as flores. Tocou-as, obrigando o seu sistema completo e complexo em vê-la. Mas não pode. Estava sem os dois. Porém, na interação das mãos, no encontro do pulsar, graditavemente abriu novamente o sorriso e se contentou em viver a dois. Só dois.

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