quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Andanças
Ela, através de um espelho, olhava a sua imagem refletida. Alguns arranhões em face, algumas peculiaridades, até sardas. Um rosto esbranquiçado. Acendendo a luz parecia ter até um pouco mais de vida. Sim, um rosto iluminado e sem vida. Não era a maquiagem que a fazia assim, mas o empobrecimento dos traços, das marcas. Sem marcas, ela poderia até se parecer com algo, mas apenas com as bonecas de porcelana. Foi até o quarto, pegou sua caixinha de música, uma pequena bailarina de plástico, a música a inspirou um ballet clássico em meio as avenidas daquela terrível cidade. Ah, esse calor infernal! Porém, apesar de tudo...Saiu de casa num impulso fervoroso pelos tempos que havia perdido, pelas linhas que havia de adquirir em seu rosto. Deveria, sim, envelhecer! E com uma adrenalina e um medo sem dimensão, foi até livraria. Disfarçadamente, olhou um, dois, três livros. Nada a apetecia. Pensou ser tão inteligente e tão apta a entender tudo. Porém, a leitura que deveria fazer era de si mesma. O que gostava, o que pertencia realmente as suas verdadeiras características. Em relação a isso, era bem mais complexo. Às vezes tentava elaborar um nexo. Porque se perdia tanto nas confusões da sua alma, que nao haveria descoberto nada sobre sua essência. Isso a amedrontava. Pensava que até os trinta teria de ter formado todo o seu aparelho psíquico, todo o seu intelecto. Já deveria ter terminado a faculdade, exercido metade das suas expectativas, no mínimo. Conquanto, percebeu que não tinha dado sequer um ponto de partida. Foi sempre tão refém de suas obrigações, que esquecera, no mínimo, de lembrar de si mesma. Foi então que colocou os livros na prateleira e resolveu caminhar mais uma vez. Estava tonta, resolveu tomar um café. Isso sim a apetecia. Foi a cafeteria, pediu um café. Nem olhou se quer o rosto das pessoas que estavam a sua volta. Estava era ansiosa, isso sim. Ansiosa por menos frio interno. Lá se foi o café, ela nem percebera. Saiu e viu um enorme buraco na rua, aonde infelizmente caiu. Um vão escuro no meio da cidade. Ofegante, acordou tremula e saiu de um sonho aparentemente sem sentido. Mas havia realizado seu desejo, pelo menos um de uma gama. Sentiu que não estava mais paralisada e retirado o peso de muitos de seus dias, que a partir de agora, teriam não um fim, mas um recomeço!
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