sábado, 27 de novembro de 2010

Névoa

Ali, talvez num vértice escondido do seu quarto, observava a névoa. A menina de vestido plisado, de artimanhas diversas, de palavras, por muito, desconexas. Tinha medo de olhar dentro dos seus olhos. Às vezes parecia que eles absorviam toda a minha surpresa, no ato estupefato e no sentimento frio, calado. Não dizia muitas palavras. Talvez isso aguçava ainda mais a minha curiosidade ou, talvez, ficava em tempos esperando, em minha ânsia, palavras como respostas, risos e expressões faciais manhosas. Mas nada, ela continuava a absorver a película que o mundo a transmitia, através de uma névoa que para ela além de reminiscências, eram sonhos, longíquos. Impenetráveis em uma realidade paralela. Criara só para si num egoísmo de ter expressões só suas. Melaconlias que não invadissem o campo de visão alheio assim como a areia branca que a chamava a atenção e a deixava tão distante de mim.
Queria, em uma sensibilidade frustrada, tentar decodificar os seus pensamentos. Quem sabe, até, ouvir muitos dos seus lamentos. A queria perto de mim em minha posse que de certa forma era até conjugal. Porém, não era.
Ao imaginá-la assim, como uma boneca numa vitrina, sem expressão, apenas coordenada pelas cordas, linhas e fios invisiveis...Que compunham a mulher que eu mais admirava.
Pensava que crer sem a clareza mais expressa seria sempre o necessário. Conquanto, ela estava ali admirando a máxima simplicidade. Não precisava de nitidez, de foco para se entender. Ela simplesmente sabia.

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