quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Identidades


Hoje somos massacrados. Não apenas em relação ao direito político, com Marx e Engels comprovaram através de seu socialismo científico. Somos afunilados, a todo tempo, até mesmo pela nossa própria censura. A censura é esconder o que realmente se pensa, as verdadeiras ideias e criar um tipo de postura, que, na verdade, não é que a tomaríamos realmente. Isso tudo pra quê? Pra agradar um certo grupo de pessoas, pra nos sociabilizar. Não, não culpo quem faz isso. Porque muitas vezes até eu faço, inconscientemente. Precisamos ter alguém ao nosso lado e nisso esquecemos que antes de qualquer pessoa e qualquer amor, existe nós. O que temos de mais precioso. E daí, suprimimos algumas faces. Estas mudam mesmo, é bastante comum, ate. A personalidade já é um pouco mais complicado, mas quando passamos por certos momentos, acabamos mudando-a também. Já que amadurecemos e adquirimos diversos tipos de valores. A maior problemática, ao meu ver, é perder a essência, o motivo que se busca por estar aqui, o motivo da felicidade plena, o motivo de respirar e em cada vez sentir a alegria de estar vivo. É você renegar a sua própria origem, é renegar o que está no mais profundo, no mais intenso do seu âmago. E sem se perceber, fazemos isso o tempo todo. Ao aceitar algo que realmente não queremos, ao usar algo porque convém a outro alguém...Por isso mesmo devemos aprender a nos amar como somos, afinal, é isso que move a engrenagem mais profunda da alma, do sonho e nos impulsiona a realização. Com determinação, garra e vontade.

"De tudo que tenho levo apenas o que me pertence".

Dois


E de repente, foram postas as vendas...Ainda se sentia meio zonza, meio vazia em sua consciência. De repente, não se sabia se a luzes se apagaram ou se foi ou seus olhos que fecharam subitamente. É tão difícil passar por uma nova fase da vida. Os passos, cada vez mais diferentes um dos outros. Os pés meio tortos. A auto confiança meio ao avesso. E por mais que se tentasse entender o motivo das mudanças repentinas, era um tanto quanto improvável. Às vezes, demasiadamente simples é para uma criança entender algumas coisas do mundo de maneira prática. Mas, quando adquirimos muito conhecimento, muitas vivências, acabamos por complicar as coisas, acharmos que tudo é tão sério quanto a carapaça que revistimos pouco a pouco quando nos tornamos adultos. Ou pseudo, não se sabe. Ela não sentia mais a respiração, mas isso foi só durante dois segundos, que logo depois, sentiu sua respiração ofegante. E nada mais viu. Em um sonho vívido lembrou-se ainda dos momentos de menina, com o vestido rodado, com os laços caindo, desentrelando-se, assim como sua consciência. Divertia-se com a ideia de uma infância feliz. O seu passado agora trazia lembranças melhores do que o próprio futuro lhe reservaria. Ah, como bom são os tempos das pequenas preocupações. Das pequenas responsabilidades, afinal. Do rosto macio, inócuo, passional.
O tempo estava se passando cada vez mais rapidamente na sucessão temporal de seus sonhos, que quando se notou, já era uma mulher, vívida, brilhante, independente. Mas também um pouco frustrada, por sempre correr demais, não poder dar atenção a si mesma. Impossibilitando, muitas vezes, de amar a si própria. Infeliz é aquele que não se ama, incompleto nos dons, nos tons, na essência. Tão mirabolante essa escuta plena, porém algo estava lhe faltando. Agora, já sabia o que era. Quando, de repente, ouvia uma voz, indagando-a se estava tudo bem. O amava, isso já bastava. Toca-lo, senti-lo, cheira-lo...abraça-lo! Ainda possuia tudo o que precisava. Sua visão de mundo, suas perspectivas. Seus planos pro futuro, que agora, reorganizados, tomaram uma outras dimensão.
São fases da vida, disse ele. Estarei sempre ao seu lado. Imagine a flor mais bonita. E antes de tirar a venda, imaginou. E conformando-se ao suprimir sua melancolia, não abrandou-se. Apenas se permitiu sorrir. Ao tirar a venda, ao abrir os olhos...Continuou sem ver as flores. Tocou-as, obrigando o seu sistema completo e complexo em vê-la. Mas não pode. Estava sem os dois. Porém, na interação das mãos, no encontro do pulsar, graditavemente abriu novamente o sorriso e se contentou em viver a dois. Só dois.