quinta-feira, 10 de junho de 2010

O menino rosa


O menino andava pela cidade, todos os dias sobre a mesma calçada. Sentia um calafrio nos pés quando, por exceção, mudava de lado. Ao passar por diferentes muros, se sentia tão fora de seu lar habitual. Era como se fosse um rito, uma coincidência, que ele próprio criava, para se sentir mais seguro, nas largas ruas, nas estreitas memórias.
Um dia, sentou-se numa escada das casas pelo qual passava, se sentia cansado, a alma pesada. Além de ser uma exceção no seu próprio mundo, não era dono nem do seu próprio caminho, que, por ser público, todos passavam. Veio um aperto no coração, uma vontade de mandar todos para seus devidos lugares, para seus próprios lados de ruas. Talvez até mesmo ladeiras próprias para cada um dos habitantes daquela região. Um paralelepípedo, mesmo o mais pequeno, mas pelo menos, pertecente a cada um.
Dois dias se passaram, seu percurso estava vazio. Algo impressionante para um lugarejo tão movimentado, com pessoas apressadas, sempre. Mas naquele dia isso não acontecera. Só vira um menino soltando pipa, um carro de algodão-doce. Só isso. Viu um algodão-doce rosa, por um momento, em um suspiro voraz, pensou em comê-lo. Pelo contrário, queria absovê-lo. Ainda mais, queria sê-lo. Pois assim, entregou-se a brisa e com o vento e se juntou com o azul do céu. Era uma nuvem, uma nuvem rosa.

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