terça-feira, 22 de junho de 2010

Verde


Um belo dia de Sol. Chegava a cegar bem os olhos, a deixa-los bem fechados, esticando-os, assimilando com os japoneses, chineses. Um belo dia pra olhar o céu azul, sem nenhuma nuvem. As crianças chegavam ao jardim, com baldes d'água, jogando em si e em seus próprios amigos. Realmente estava um belo dia. As aves atônitas em seu caminho ainda incerto. Os animais de estimação eufóricos e indecifráveis. Porém, havia uma ambiguidade naquele ambiente tão febril de felicidade. O jardineiro não estava em seu dia de folga, estava febril sim, mas de cansaço por estar já desde de tão cedo trabalhando, esforçando-se ao máximo para deixar a grama baixa para poder logo ir embora. Ver a sua família, as pessoas pela qual tem um apreço enorme. Magnífico não é o sonho, é a realização dele, como um presente oriundo de longe. Como um término do dia no horizonte, a brilhar e apagar como vagalumes perdidos no espaço. Ele não parava. O menino encostado na porta o observava, talvez até mais do que devia. Estava encantado com a sua beleza rústica, talvez até arcaica. Mas era o que sentia. Não podia esconder de si mesmo. Era algo que saía do âmago como uma essência, a pairar por todo o ar. A sua irmã ouvia alto a música, mas ele nem se apercebeu. Será que poderia dar certo ? Somos tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais. As diferenças nos aproximam, pensou. Mas algo guardado dentro do peito não o permitia nem se quer falar algo com o jardineiro. Ficou preparando o seu psicológico pouco a pouco, para não deixar rastros de nervoso e de uma experiência tão nova para ele mesmo. Mas antes disso, o jardineiro já havia percebido os olhares mais maliciosos ou talvez até menos distantes do garoto. Ambos precisavam suprir a carência que tinham. Precisavam que se amassem. E lá, na grama verde, a vida começou. Não para um ou para outro. Mas se encontraram, ambos.

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